Quando o Jogo Parou

Apaguei o ficheiro de salvamento às 3:17 da manhã, sozinho no meu apartamento em Manhattan, enquanto a chuva batia na janela como o último trovão de Zeus. Não porque perdi, mas porque percebi: jogava não para vencer, mas para preencher uma vazidão que apenas avatares digitais conseguem imitar.

Os jogos prometiam glória: blocos dourados, carretéis divinos, taxas de vitória de 95%. Mas cada “vitória” parecia roubada—tirada de um deus que nunca respondeu. Meu terapeuta chamou isso de “luto digital”. Minha mãe, professora, sussurrou: “Estás a perseguir fantasmas vestidos como progresso.”

Pensava que estratégia era poder. Mas estratégia sem alma é apenas ruído. Os RNGs são justos—but justiça não cura a solidão.

Escolhi jogos de baixo risco—silenciosos, sem apostas—onde cada rodada se tornava um sopro sob a luz estelar. E então veio o momento: apagar o ficheiro. Sem reset. Sem tentar novamente.

Naquele silêncio, algo se agitou dentro de mim—não vitória—but reconhecimento.

O verdadeiro prêmio não estava nos créditos ou bônus. Era em lembrar como se sentia—to ser compreendido—nesse vazio, onde até os deuses param de jogar.